Tuesday, December 18

Inferno #198: A arca.

Projectou-a na mente. Uma arca onde poria todos os homens que por qualquer motivo se tinham cruzado com ela. Ainda não sabia se os dividiria por idades, categorias ou ordem alfabética. Apesar das indecisões que lhe suscitava a organização, começou a fazê-los entrar na arca pela ordem em que tinham entrado na sua vida. É que não tinha o tempo todo do mundo. Tempos houve em que tinha o tempo de uma vida para fazer aquele trabalho, mas essa vida estava quase no fim, não tinha tempo a perder.

Inferno #197: O velho.

O "velho" não lhe saiu da cabeça durante um mês e tal. Um mês de noites mal dormidas a fantasiar com ele, holograma perfeito projectado da sua cabeça directamente para a sua cama.
Devia estar apaixonada. Ou a querer ficar apaixonada..."Era o que mais me faltava, agora apaixonar-me por um velho, um paizinho...".
Mas, enfim, eram só hologramas. Nunca chegou a conhecer bem o homem que existia no velho. Gostava apenas de falar com ele, dava-lhe gozo sentir-se mais inteligente do que ele, e sobretudo muito mais nova. Sabia que as coisas não eram bem assim. Aliás, a verdade é que era o velho que dominava as conversas: falavam sobre os assuntos dele, no horário de nómada que ele tinha escolhido para si, e quando estava disposto a isso. No fundo, sabia que estava a ser manipulada em cada conversa que tinham, mas enquanto não o encontrasse na sua cama (em carne, não em projecção mental), a invadir-lhe a privacidade como nunca ninguém se tinha atrevido a invadir (nem ela o tinha consentido), não se preocuparia. Enquanto fosse apenas um jogo psicológico, não havia riscos reais, nem sequer o risco de se apaixonar.

Tuesday, November 13

Inferno #196: Ganância.

Pensei em ti e desejei-te durante o dia todo.
Quando cheguei a casa, já a noite ia avançada. Vi-te. Percebi que afinal o meu desejo podia aguentar mais dias sem te consumir.

Friday, November 9

Inferno #195: máxima

Guarde para amanhã o que pode fazer hoje, porque assim tem alguma coisa para se entreter…

(isto pode não dar sempre bom resultado)

Inferno #194: Equador (ou o momento entre dois momentos).

“Pensei por uns dias, e decidi que gosto de ti. Portanto, quero ver-te morto, e até pode ser uma morte doce. Não te quero magoar, mas preciso de ter garantias de que nunca vai mesmo existir um ‘nós’, que é absolutamente impossível.
Nem fazes ideia de quantas vezes te segui os movimentos. De início seguia-te com os olhos, para te cativar. Agora, os olhos olham por uma mira, ligada a um cano, ligado a um gatilho.
Se eu te matar, talvez já não me magoe, e a dor passe toda para ti.”

Sunday, November 4

Inferno #193: Dependência.

O meu traficante atrasa-se pontualmente 15 minutos. Espero por ele num jardim abandonado, com a massa pronta no bolso do blusão. A transacção é rápida: eu passo-lhe o dinheiro, ele passa-me a ‘droga’: amores vermelhos, sonhos cor-de-rosa e céus azuis.
Digo sempre que esta vai ser a última dose, mas depois de cinco dias de ressaca, a saudade começa a ser demasiada. Tremo, contorço-me e distendo-me em espasmos.
Preciso de mais.
E doem tanto os 15 minutos de sempre, em que ele se atrasa e eu desespero…

Friday, October 19

Inferno #192: Conta de dividir.

Agarrou-lhe o braço e fincou nele as unhas. Era tão ingénua… Pensava realmente que podia manter-se assim muito tempo, a agarrá-lo como se ele fosse de facto dela. Aliás, acreditava que estava de facto a prender o corpo dele com um bocado do seu próprio corpo. Acreditava mesmo que ele acabaria por ceder, e ficar.
Ele observou com calma toda aquela cena final de desespero. Teve até vontade de rir. Claro que já tinha decidido partir, claro que não ia voltar atrás. Claro que gostava dela, genuinamente. Mas era tão transparente que o aborrecia, tão previsível, tão mulherzinha
Bastou um olhar dele, para perceber que não iam mesmo ficar juntos. Largou-lhe o braço, afastou-se da porta. Ficou a ver partir o único homem que tinha amado.

Inferno #191: Pinheiro e carvalho '3.

Tinha os pés gelados. Mas não tanto quanto o coração. Já não se lembrava muito bem de como aquilo tinha acontecido. Já não chorava, não ria, não tinha grande desejo por nada.
Também a voz, porque é com ela que dizemos o que o coração quer, se tinha tornado gelada, grave, robótica.
A figura agora era franzina e pálida.
Há já algum tempo que estava naquela cama branca, alimentada a soro.
Sabia que tinha encenado a própria morte. Deitou-se num caixão e cortou os pulsos, mas mais do que tinha previsto. Só queria chamar a atenção, porque não aceitava não ser o centro das atenções e das preocupações. Salvou-se de ter morrido, mas não se salvou de outra morte bem mais dolorosa - o hospício. A loucura tomou conta dela, acabou por entrar em coma. Já nem sabia há quanto tempo vivia naquela mesma cama: podiam ser dias, semanas, meses, anos. Anos!? O que é que se tinha passado durante aquele tempo todo (que lhe parecia infinito) em que dormiu?

Thursday, October 18

Inferno #190: nem um gajo giro...

Se eu mandasse, todo e qualquer local de trabalho teria obrigatoriamente um gajo giro!
O que é que eu vou fazer sem a musa radiofónica? A minha (minha e da Mariana) musa, linda de morrer, simpática, inteligente e com o sotaque alentejano mais charmoso de Lisboa e arredores!?
Como é que eu me vou habituar ao meu trabalho novo, onde não há um só gajo giro para lavar as vistas?

Wednesday, October 17

Inferno #189: Descoordenação.

As mãos esperneiam. Os pés gesticulam.
Os olhos articulam. A boca vislumbra.
As orelhas tocam-se. O corpo ouve.

Tuesday, October 16

Inferno #188: Pinheiro e carvalho '2

Quando voltou a acordar, não estava mais naquela cama fechada de madeira.
Agora, atordoada, espreitava com os olhos meio-fechados a cama em que a tinham deixado: era mais larga e mais clara que o caixão. Caramba, tudo ali era tão claro, quase nem conseguia abrir os olhos! “Será isto o purgatório?”
Depressa teve a resposta: um cheiro enjoativo a desinfectante, os gritos loucos de alguém muito próximo dela, e uma voz desconhecida, mas agradável, “Hora da medicação”.

Monday, October 15

Inferno #187: pensamento do dia.

A minha cabeça imprimiu a tua cara.

Inferno #186: vazios.

Algumas lágrimas são secas.
Alguns sorrisos são amarelos.
Algumas palavras são mudas.
Alguns gestos são vagos.
Alguns sentimentos estão apagados.
Algumas pessoas ficam esquecidas.

Inferno #185: comida.

Alimento-me de páginas em branco, porque sonho poder mudá-las com aquilo que existe dentro de mim.

Friday, October 12

Inferno #184: máxima.

Quem tudo quer, ainda não percebeu muito bem o que é que quer.

Inferno #183: máxima.

Mais vale não ter nenhum pássaro na mão, para conseguir apanhar as coisas que interessam realmente...

Inferno #182: Pinheiro e carvalho.

Estava deitada numa cama. Estranhou o vestido comprido que a envolvia, afinal o que é que lhe tinha passado pela cabeça? Quem é que se veste de gala para ir para a cama? Estranhou também o facto de a cama ser tão estreita. Costumava ser ampla, agora só tinha espaço para o corpo dela, assim como estava, direito e de costas para o colchão.
O dia estava claro, tão claro que não encontrava força para abrir os olhos. Sentia o corpo frio, dormente, e não tinha um lençol para se aquecer.
Ao seu redor, pairava um cheiro de verniz e pólen. Afinal não tinha dormido em casa…
Lentamente, mexeu os dedos da mão direita, que dormia sobre a esquerda, e sentiu a cicatriz que o pulso escondia. Nunca pensou que a tivesse feito assim tão grande…
Estava morta, e sabia-o agora.

Tuesday, October 9

Inferno #181: raio-x.

Os olhos já não são os mesmos. Ganharam ignorância. Perderam mundo. Apresentam-se vazios. No lugar deles, dois berlindes que aprenderam a passar pelas coisas sem as ver.
O cabelo teima em cair. Perde os tons outrora quentes. Agora é cor de rato. Fininho, as mãos quase não o sentem quando passam por ele.
As pernas e os pés vacilam a cada passo arrastado. As veias sobressaem como raízes de uma árvore velha, plantada há muito tempo no lugar de onde nunca saiu.
As mãos perderam vigor. Já não têm vida quando agarram as coisas; a vida que ainda têm serve-lhes apenas para suportar o peso da pele dos braços.
A boca conheceu os seus novos tons de rosa velho. Já não sabe a que sabem as coisas, porque já não as consegue sentir. Fecha-se cada vez mais sobre si mesma, engelha-se, porque já não é quente.
A pele empalideceu e enrugou.
Olha-se ao espelho e sorri, porque não é como se vê por dentro.

Monday, October 8

Inferno #180: "Verão" (Vivaldi).

Fui toda a sua exaltação, euforia e melancolia.
Quando acabou, aos 10.20 minutos, achei-a muito pequena. Mas a música continua na minha cabeça...

Sunday, October 7

Inferno #179: máxima.

BERRAR é humano.

Inferno #178: canção de amor e desamor.

"I'm the singer, I'm the singer in the band
You're the loser, I won't dismiss you out of hand
You've got a beautiful face
It will take you places

You kept running
You've got money, you've got fame
Every morning I see your picture from the train
Now you're an actress!
So says your résumé
You're made of card
You couldn't act your way out of a paper bag

You got lucky, you ain't talking to me now
Little Miss Plucky
Pluck your eyebrows for the crowd
Get on the airplane
You give me stomach pain
I wish that you were here
We would have had a lot to talk about

We had a deal there
We nearly signed it with our blood…
An understanding
I thought that you would keep your word
I'm disappointed
I'm aggravated
It's a fault I have, I know
When things don't go my way I have to

Blow up in the face of my rivals
I scream and rant, I make quite an arrival
The men are surprised by the language
They act so discreet, they are hypocrites so fuck them too!

I always loved you
You always had a lot of style
I'd hate to see you on the pile
Of ‘nearly-made-it' s
You've got the essence, dear
If I could have a second skin
I'd probably dress up in you

You're a star now, I am fixing people's nails
I'm knitting jumpers, I'm working after hours
I've got a boyfriend, I've got a feeling that he's seeing someone else
He always had a thing for you as well

Blow in the face of my rivals
I swear and I rant, I make quite an arrival
The men are surprised by the language
They act so discreet, they are hypocrites forget them
So fuck them too"

Belle and Sebastian, "Dress up in you" (The Life Pursuit)

Inferno #177: erros.

Sou uma gralha que escapou no texto. O revisor ainda estava mal acordado e não me leu. Sou uma gralha entre as palavras caras.

Inferno #176: focas e leões marinhos.

Não queria ser mais uma janela de escape para ele.
De início, parecia diferente, bom... Mas afinal eram apenas duas pessoas à procura de outras pessoas que as ajudassem a esquecer um bocadinho a mágoa quotidiana...
- Não ia resultar. É que ela não tinha escola nenhuma, e muito pouca vocação para aluna. Já ele, até podia ensinar-lhe tudo o que ela não sabia, mas depressa perderia a paciência...

Inferno #175: mais qu'est-ce que vous faites là?

Acabar uma conversa é algo de muito simples.
Para quê prolongá-la até que esteja totalmente vazia, se os dias todos se preenchem de outras conversas, também elas vazias?

Tuesday, October 2

Inferno #174: A caça.

Às vezes não gostamos dos poemas que nos dão a ler. E isso não é mau, é humano.
Eu não gostei do teu poema, não era esse que queria ouvir, era outro bem diferente. Também não me soubeste ler. Agora sequei para ti; estou muda e cega, não quero ler o teu poema, nem quero que leias os meus.
Até um dia destes.

Inferno #173: Estátuas de cera.

Nos dias em que as palavras ficam guardadas, é cera que me escorre pelas mãos e as seca. Ficam como estátuas. Não as posso usar para falar. Apenas as contemplo. A muito custo tento juntá-las e peço, em silêncio, que esta artrite seja mesmo passageira.

Inferno #172: Dias orangotangos.

Numa só manhã...
10.00h: Ignorar o sinal de trânsito proíbido (juro que não o vi) na presença de um polícia.
12.00: Deixar cair uma caixa de laranjas no supermercado (juro que não percebi que estava tão perto).
12.50: Partir a tigela das ameixas (juro que não a vi cair do frigorífico).

Resultados:
- o polícia até simpatizou comigo e por isso não me tirou a carta.
- um casal ajudou-me a arrumar as laranjas na caixa.
- uma vassoura e uma pá dão sempre jeito quando há vidros partidos no chão.

São assim os dias orangotangos: provocam acidentes em série. Mas dança-se o tango das coisas de todos os dias, e tudo se resolve...

Wednesday, September 26

Inferno #171: A música nova do millennium bcp.

"Um pequeno t2, onde podemos viver os dois
lararara um carro com tecto de abrir
lararara tenho que virar a minha vida de pernas para o ar".


O Ricardo Azevedo é um senhor que um dia, provavelmente porque não tinha nada que fazer, decidiu escrever uma música (cujo essencial está aí em cima, entre aspas). Foi claramente uma má decisão (os motivos estão também aí em cima, a negrito). Mas pelos vistos, o Millennium bcp pensa o contrário.
Eu cá não sou expert em música. Mas até sei algumas coisas. Por exemplo, sei que "t2" rima com "os dois" porque, enfim, É A MESMA PALAVRA. Depois há a tal questão do carro com tecto de abrir. Eu também quero muita coisa e não a apanho! Tem dias em que a única coisa que apanho é o 35 que vai ali para o Cais do Sodré... Por fim, acho que "virar a vida de pernas para o ar" [olha!, uma rima, há quanto tempo!!] não é lá muito bom. Porque isso implicaria estar constantemente a fazer o pino. Mas é só uma opinião...

Pronto, está bem, o senhor Ricardo Azevedo (que tem mais nome de futebolista do que de cantor - ah..., talvez seja por isso que a música não é lá grande coisa!!) quer ser feliz. Eu também quero, mas não ando para aí a cantar para cima das pessoas numa carrinha cor-de-rosa!

*O execrável anúncio pode se visto aqui, mas por favor não faça esforços que pode não aguentar!!

Inferno #170: Uma fixação pessoal.




Se há homem que Francisca aprecia, esse homem é Albano Jerónimo (esse mesmo da fotografia de má qualidade aí em cima).
É certo que não tem o melhor dos nomes, mas tudo aquilo que não tem em nome, compensa com o corpinho. Albano Jerónimo é, podemos dizê-lo, bastante "bom". Até os olhos (cuja cor não consigo precisar) são bons. Um macho latino sem todas aquelas coisinhas que não se apreciam lá muito num macho latino (i.e. pulseira e/ou fio de ouro e unhaca no dedo mindinho).
Um belo naco, para comer nas indigestas (oh, e isso é dizer pouco...) novelas da TVI.


*O tom explicitamente rebarbado deste post foi 'uma vez sem exemplo'...

Saturday, September 22

Inferno #169: A comunidade.

Os blogueiros deviam ser obrigados a continuar a escrever. PARA SEMPRE.
A minha coluna aqui do lado direito está cada vez mais pobre. Snif snif. O QUE É QUE EU VOU LER AGORA!?

Inferno #168: Dias macacos.

Aqueles dias que lá para o fim da tarde, quando ninguém espera, decidem pôr as patas dianteiras debaixo dos sovacos e guinchar u u uah ah.

Inferno #167: A musa...(para ler a suspirar)

Duas meninas da rádio têm uma musa nova.
Um dia vão raptá-la, e pô-la num avião com destino a Madrid.
A musa só tem um defeito: podia usar menos gel no cabelo. Mas enfim, errar é humano, as meninas da rádio compreendem, ainda assim...
:-)

Wednesday, September 19

Inferno #166: Limpezas.

A minha secretária é um amontoado de tralha e folhas soltas às quais não consigo pôr fim.
A tralha, és tu. A secretária, o meu pensamento.

Inferno #165: Porque Setembro ainda é um mês de Sol...

...os mal-humorados estão proibidos de sair à rua. Ou antes, se querem sair à rua, façam-no civilizadamente, sem histerias, e sobretudo sem tentativas de rebelião. A vossa época ainda não começou; vão para casa e voltem só lá para o fim de Outubro.

Inferno #164: A febre ERASMUS.

Num ataque de nostalgia, falei aqui do 'aniversário' da minha ida para ERASMUS. Acontece que não fui a única. Uma colega é que me fez reparar nisso. Parece que nesta altura do ano há muita gente a fazer um ano de ida para ERASMUS (e eu a pensar que era especial...). E parece que essa gente tem toda um blogue. E parece que toda essa gente, que tem um blogue, se lembrou de escrever sobre o aniversário da ida para ERASMUS.
Pior que a falta de originalidade deste blogue, é o facto de essa gente (supra-referida), detentora desses blogues, escrever coisas bem mais profundas e elaboradas do que eu.

O INFERNO errou (mas promete estar atento aos outros blogues [esses sacanas], para fazer tudo ao contrário).

Inferno #163: Os mistérios do mundo animal.

Era uma vez um papagaio que conheceu uns flamingos em Setúbal.
Quando chegou a hora da partida para os flamingos, o papagaio não quis ficar sozinho e decidiu "também vou"!
E foi mesmo. Voou de Setúbal até ao Senegal (mais de 2000 km). Quando chegou ao Senegal, não contente com a proeza de voar mais de 2000 km (o que é praticamente impensável para um papagaio), e com o facto de estar entre flamingos, encontrou a pièce de resistance perfeita: gritar 'Amor' na presença de um grupo de investigadores holandeses.
Fim.

Wednesday, September 12

Inferno #162: Há um ano.



Mais ou menos por esta altura, há um ano atrás, estava em Paris à procura de casa.

Foi a pior semana da minha vida (depois percebi que era uma coisa normal em Paris).

No fim dessa semana, uma daquelas coisas que só acontecem nos filmes (ou que só acontecem em Paris): alguém, conhecido de alguém, irmã de alguém, mãe de alguém tinha uma casa que servia perfeitamente.

Imagine-se, um studio no Cartier Latin.

O estúdio foi ganhando ares de casa. Vivi lá 4 meses.

Nunca me vou esquecer dessa casa e das vozes que a preencheram em dias. Penso nela às vezes, será que alguém lá mora neste momento? E se mora lá, será que vive realmente lá? E se vive, viverá com a mesma intensidade com que eu lá vivi? Não me parece possível. Acredito sempre que ninguém vive as coisas como eu. No fundo, sou só mais um grão de areia a dar ares de especial...

Inferno #161: Hoje.

Hoje foi dia de olhar para fotografias.
E dia de pensar "O que é que vem a seguir?"

Friday, June 29

Inferno #160: A transformação.

Kafka sabia muito...É frequente acordar e perceber que durante a noite me transformei num "monstruoso insecto".

Inferno #159: enternecimento.

"Hoje vou passar a noite a olhar para ti.", disse-lhe um dia. Falava verdade. Foi aí que percebeu como era apaixonar-se por alguém que nunca teria: ela nunca seria dele, ele nunca desistiria dela...

Thursday, June 21

Inferno #158: Gato e rato.

Ontem andou à minha procura.

Mas fui eu quem ganhou.

Inferno #157: Hoje percebi que...

...Vou passar o resto da minha vida a tentar escrever sobre o mundo.
(há profissões lixadas)


E a minha pergunta é: e se um dia eu conseguir, o que é que faço depois?

Thursday, May 24

Inferno #156: História dos três dias até à minha morte (?)

No antepenúltimo percebi que ia mesmo morrer. Chorei, pensei em mil soluções para continuar a viver, deprimi-me, fechei as janelas, não vi o sol, não dormi.
No penúltimo despedi-me de todos, ouvi as músicas de que mais gostava, li páginas que por uma razão ou por outra tinha deixado para o dia seguinte, saí, fiz o que nunca tinha feito.
No último dia morri.

E foi assim que comecei a viver. Porque o coração bate-nos para que percebamos que estamos vivos. Um dia cansa-se, e pára.

Friday, May 11

Inferno #155: vazios.

O que é que acontece depois do vazio de não poderes ajudar um amigo?
O que é que acontece depois do vazio de perceber que afinal estamos todos sós?
O que é que acontece depois do vazio de engolir em seco?
O que é que acontece depois do vazio de escrever para nada?
O que é que acontece depois do vazio de um olhar numa fracção de segundo?
O que é que acontece depois do vazio de água a escorrer pela cara?
O que é que acontece depois do vazio de um trabalho (in)acabado?
O que é que acontece depois do vazio disto?

O mundo afinal não nos prepara para tudo...

Inferno #154: [...]

Inferno mesmo é:
- Ouvir pela enésima vez as histórias daquela tipa que está deprimida e não admite (porque afinal é o mundo todo, e não ela, que precisa de ser regulado);
- Veres a perfeição e perceberes que é gay;
- Escreveres tudo o que tens que fazer no dia;
- Perceberes que a perfeição gay nunca olharia para ti;
- Não ter cebolas para fazer o refogado;
- Perceberes que a perfeição gay até podia olhar para ti, mas vocês seriam incompatíveis;
- Não ires ao cinema há 'algum' tempo (esta é sobretudo triste);
- Perceberes que a perfeição gay ia ter muitas manias e tu não tens cá pachorra para as aturar;
- Não vais ao cinema porque foste ao teatro;
- Perceber que a moedinha que deste não lhe vai dar para o jantar;
- E ainda por cima a peça estava mal encenada;
- Pensar 'E depois disto o que é que eu vou fazer?';
- Não há cebolas nem azeite! Esta casa não tem nada, pá!;
- 'Vai haver trabalho de certeza. Então mas e se não houver?';
- Ok, venceste, vou jantar fora;
- Quem foi o idiota que inventou os recibos verdes!?;
- As listas são estúpidas, porque podem prolongar-se ad eternum (e acabaste de o perceber).

Thursday, May 3

Inferno #153: Situações de perigo.

Quando se apercebe que o seu colega de todos os dias "até é bastante sensual" (isso não pode ser bom...).

Inferno #152: Inquietude.

O cigarro já vai na ponta.
Não há racord!
Corta!

Thursday, April 19

Inferno #151: learning to dislove.

I'm seating on your lap.
I'm seated on your lap, between the love of yesterday and the indifference of tomorrow.

Wednesday, April 18

Inferno #150: O êeeenfase nas palavras.

Oiça, eu ouvi bem da primeira vez, não precisa de gritar e articular as palavras como se eu fosse surda. É que os surdos não ouvem...

Inferno #149: Ar de aparvalhada.

Se me encontrar a sorrir, com os olhos esbugalhados e fixos num ponto (que não se percebe bem onde é), saberá que estou em pleno transe, a fantasiar com alguém, não importa quem (são várias pessoas). Parece que regressei à adolescência povoada de borbulhas e de corações idiotas, mal desenhados à margem dos cadernos (bem dizem que a vida é um retorno eterno...).

Wednesday, April 11

Inferno #148: Pérolas da música - "Burbujas de Amor".

A música "Burbujas de Amor" de Juan Luis Guerra tem, descobri eu depois de uma longa e cirurgica pesquisa, uma das mais (como dizê-lo?) improváveis rimas. Falo daquela música que começa mais ou menos assim "Tengo un corazón [bla bla bla] ayayayayay".
Ora, a estrofe a que me refiro concretamente diz o seguinte (vejam se isto não é lírica pura...):
"Quisiera ser un pez
para tocar mi nariz
en tu pecera
y hacer burbujas de amor
por donde quiera
¡oh! pasar la noche en vela
mojado en ti".

Esqueçamos o facto de a letra ficar bastante mais poética quando traduzida para português (azar o do senhor, que era espanhol...). "Tocar mi nariz en tu pecera"!!?? Ao lado destas palavras, o coelhinho da playboy adquire quase o mesmo estatuto que As Aventuras do Coelhinho Azul (que é parecido às Aventuras de Anita, mas com um coelho [azul] e na floresta). Esta música é romanticamente cantada (e, sim, em espanhol) por cantores românticos em cruzeiros em alto mar (bastante adequado, já que fala de peixinhos) e eventos afins.
Está bem, 'pecera' é, na verdade, 'aquário', mas não me parece que o senhor (Don) Juan estivesse a pensar exactamente num aquário, pois não é dos mais próváveis (ou aconselháveis) sítios para passar o nariz...

Inferno #147: Leituras adiadas.

Entre Palavras

Eu e tu (sobre)vivemos através das palavras que não trocámos, mas pelas quais ardemos secretamente. É assim que, perversamente, mantemos a chama: a jogar ao gato e ao rato. Não sabemos muito bem como isto acaba (ou se acaba), mas vamo-nos divertindo nas entrelinhas, toda a gente sabe que as conclusões são para os maricas, e existirão sempre os finais em aberto.

Inferno #146: Dans Paris.

Já sei o que é falar e não encontrar as palavras que faltam.
Já beijei rostos desconhecidos em sonhos de erva.
Já subi à Torre. Já pensei que "vou voltar, mas não tão depressa".
Já falei com os olhos, com um desconhecido que não vou voltar a ver.
Já me disfarcei de coisas que ninguém sonha, para chegar à conclusão que não há nada que iguale a minha pele.
Já vivi num sítio que agora me parece um sonho. Mas é verdade, eu fui de lá (ainda sou parte dessas águas furtadas que vou levar sempre na memória).
Descobri que "não há nada como a nossa casa". Mesmo que a nossa casa esteja em tantos lugares e tantas pessoas...

Inferno #145: Cartas de rancor e do passado.

A um "ele"

Foste o lugar mais estranho do amor em que me sentei. Agora esgotaste-te. Ou esgotei-te, não sei...
Já não existes nas prateleiras do supermercado e eu já não sinto a tua falta, troquei-te por alguém mais confortável.
Sim, eras ardente, mas a tua chama durava pouco mais que o tempo de um olhar e um beijo.

Sunday, March 25

Inferno #144: why don't you like me?

"(...)I could be brown
I could be blue
I could be violet sky
I could be hurtful
I could be purple
I could be anything you like

Gotta be green
Gotta be mean
Gotta be everything more
Why don't you like me?
Why don't you like me?
Why don't you walk out the door!(...)"

(Mika - Grace Kelly [viciante])

Monday, February 19

Inferno #143: Socorro, voltei!

E por cá está tudo igual. Lá, ficou um mundo ainda por descobrir de sítios novos todas as noites, de pessoas em constante evolução e descoberta, de enamoramento a cada esquina (e nunca se sabe o que aí pode acontecer...).
(Amo-te,) Paris.

Inferno #142: A Odisseia.

Fugir de ti e mesmo assim procurar-te onde não existes. Corto-nos as palavras e afinal queria falar contigo. Mas depois doeria durante muito tempo. E não vale a pena, porque o amor é demasiado difícil de encontrar e eu sei que ele não está contigo.