Sunday, November 4

Inferno #193: Dependência.

O meu traficante atrasa-se pontualmente 15 minutos. Espero por ele num jardim abandonado, com a massa pronta no bolso do blusão. A transacção é rápida: eu passo-lhe o dinheiro, ele passa-me a ‘droga’: amores vermelhos, sonhos cor-de-rosa e céus azuis.
Digo sempre que esta vai ser a última dose, mas depois de cinco dias de ressaca, a saudade começa a ser demasiada. Tremo, contorço-me e distendo-me em espasmos.
Preciso de mais.
E doem tanto os 15 minutos de sempre, em que ele se atrasa e eu desespero…

8 comments:

Helio Lambais said...

A dependência de tais "drogas" é realmente a maior do mundo.... mas tudo fica bem na próxima dose!!

Bjue e adoro o que escreves... já está favoritada ! =)

amelinha said...

eu não curto dependências de nenhuma droga

Francisca C. said...

Eu ainda não decidi se gosto ou não da dependência. Há quem diga que uma pessoa sem vícios não é saudável...

amelinha said...

eu gosto de querer depender de alguma coisa ou pessoa, mas saber que isso é reversível a qualquer instante. Senão esborracho-me estatelada no chão, atrofiada até à quinta casa. Se a dependência toma conta de mim e se me anulo em detrimento disto ou daquilo.
Vicio-me no prazer de não ser viciada e de poder tirar partido de todos os vicios e de todas as pessoas sem depender delas para viver.

nem sei de que drogas falas... e tou para aqui a mandar postas de pescada.

Anonymous said...

Sei bem o que isso é...
Há anos que ressaco.
Há anos que fantasio com tardes granat e serões lilás.
Há anos que fantasio com a fantasia.

Redobrado de energia vim aqui dar-te um beijo e os meus mais sinceros parabéns.

Francisca C. said...

Amelinha: A-ha!, então és daquelas pessoas que não se vicia em ninguém, porque vicia os outros...;)
Fora de brincadeiras, percebo o que dizes, mas há dias em que os vícios ou os desejos são mais fortes, e essa dependência torna-me mais vulnerável (depois passa, e volto a ser 'the good old' pessoa fria e desapegada de sempre)

Obrigada, Alcebíades! É sempre muito bom vêr-te por cá e ainda bem que voltas com mais energia (e sem o siso, espero)!:)

Abraços e beijos para os dois.

amelinha said...

sabes, estou longe de ser uma pessoa fria e despegada... se luto contra a dependência, essa luta é quase uma batalha dentro de mim, contra a minha natureza. e sim, há dias que estamos mais vulneráveis e nos entregamos, nos expomos e esperamos com isso ficar protegidos. Mas às vezes não é bem assim!

Francisca C. said...

Percebo o que dizes quando falas em lutar contra a dependência (porque também o faço), mas diferimos na forma de estar.
Nos dias em que me sinto mais vulnerável, embora esteja à espera de ser protegida, interiormente eu sei que é essa ideia ou desejo não passa de uma utopia, e por isso mesmo volto a adoptar uma atitude distanciada.