Friday, March 26

Inferno #252: O tempo.

Mata-me o tempo de espera neste purgatório que é o espaço entre ter-te e deixar de te ter.

Purgatório #4: A ausência.

É inevitável esquecer-te. Com o tempo, vou deixando de ver a tua cara tão nitidamente. Os teus gestos começam a irritar-me e deixo de suportar ouvir-te sequer. É inevitável reparar nos teus defeitos e em todas as coisas pequeninas que me tiram do sério, mas que até há bem pouco tempo achava engraçadas. Vais deixando de fazer sentido para mim...
Ainda assim, são muitas as vezes em que tenho vontade de te pedir que esperes, porque chega a ser arrasadora a impressão de que vais mesmo esperar.
Foi um erro dar-te como adquirido, é um erro ainda maior continuar a pensar em ti.

Purgatório #3: A presença.

Estás em mim como acho que nunca ninguém esteve. Acordo contigo, tenho-te nos passos que dou, toco-te nos sítios onde estou e, às vezes, quando o vento canta, percebo-te nitidamente a falar comigo.

Wednesday, March 24

Purgatório #2: A convivência.

Ter de me habituar, em revolta silenciosa, a conviver contigo. Mas a culpa não é tua, é minha e da minha vontade…

Purgatório #1: Voltar a pôr os pés na terra.

Preferia ser-te transparente a motivar o irritante tratamento especial que me dás, e que eu não pedi, motivado única e exclusivamente pela possessividade natural que se tem quando alguém que valorizamos gosta de nós, e que não queremos que deixe de gostar, porque, enfim, faz-nos bem ao ego…
Esse tratamento especial faz-me atribuir sentidos a coisas que não existem e, bom, ter consciência disso leva-me ao desespero.
É isso, fazes-me desesperar porque «nós» não existe, está apenas alojado no meu triste, e brilhante, cérebro.