Tuesday, October 4

Inferno #26: mamas.

fotografia de Cindy Sherman (da série de retratos históricos)

Por que é que os gajos tem sempre que dar a sua espreitadela para as mamas das gajas quando estão a falar com elas?

11 comments:

Syd said...

Pois que são animais mamíferos...

Francisca C. said...

hmm...isso justifica tudo?

Syd said...

Não... Mas pode ajudar a explicar alguma coisa. Posso saber o que significa "tudo"?

Francisca C. said...

Ok. O tudo era num sentido abstracto; estava a pensar que os elefantes também são mamíferos e isso justifica o que eles fazem, mas o homem é (relativamente) racional, e é suposto isso ter algum peso na questão...

Syd said...

Talvez o mais importante,por trás disto, seja a questão cultural que se arrasta há anos. Todos os dias se "vendem" corpos nas capas do que quer que seja e nas publicidades do que quer que seja. Vendem-se "beleza" e modelos. E isto a juntar à irracionalidade do homem...
Mas não penso que a irracionalidade seja uma coisa "má". Talvez fossemos um pouco mais felizes se conseguissemos compreendê-la e tentar viver com ela...

Francisca C. said...

Concordo com o que dizes, nada disso está em causa: a publicidade é a realidade que se conhece (afinal o objectivo é chamar a atenção, criar fábulas e vender) e o homem tem o seu quê de irracionalidade (e aqui refiro-me a «homem» no sentido lato) e, de facto, a ignorância e irracionalidade fazem as pessoas felizes. Eu só não consigo habituar-me a essa ideia... Quer dizer, compreendo os instintos e tudo mais, mas não me entra na cabeça (apesar de perceber) que a ignorância nos possa fazer felizes - não é suposto o homem estar em constante crescimento e aprendizagem e, logo, evoluir da irracionalidade primária para um estado mais racional?

Syd said...

O homem só evolui mentalmente se quiser e digo isto considerando-o individualmente. Pode simplesmente passear pela vida e embrutecer. E há tanta maneira de o fazer!
Tive um professor (com tanto de sábio como de maluco) que me disse que o homem não está totalmente evoluído pois ainda precisa de dormir. Ou sentar-se para descansar. É certo que (e os estudos comprovam-no) cada vez dormimos menos, mas não penso nisso como uma prova de evolução. Eu não fujo à regra. Penso até que é um facto de desgaste por pensarmos tanto e por tentarmos ser tão racionais e certinhos. Familia, carreira, sucesso, objectivos e o diabo a sete. Depois afogamos-nos em Xanax, Prozac, Valium, Cocaína, Haxixe, Alcool, etc... Não sería tão mais fácil soltarmos-nos e sermos um pouco mais instintivos? Não havia um filósofo que tinha a expressão "douta ignorância"? Mas ignorante sem ser bruto.
Acho que essa questão das mamas é talvez ainda uma coisa muito animal. Ou pode ser que tenha alguma coisa a ver com Freud... Por alguns dos posts que li aqui no teu blog, penso que talvez estejas mais habilitada a responder a isso que eu... ;-D

Francisca C. said...

Eu percebo que seja irracional e inconsciente, a princípio. Mas a dada altura a própria pessoa apercebe-se do que está a fazer e que fazê-lo não é correcto (aos olhos da nossa cultura, e sei que falo como pessoa moldada por ela), ou pelo menos é indiscreto e deixa o observado pouco confortável. A partir desse momento, o homem devia dar lugar à racionalidade (coisa que muitas vezes não acontece).
Pelo menos é para isso que os mecanismos mentais de 'travagem' que todos temos (e que, mais uma vez, herdamos da cultura) servem.
Não sou apologista do recalcamento (embora nestas situações seja necessário - a mulher não é um objecto há muitos anos, embora se construa sempre essa imagem dela), mas é assim que a nossa cultura e sociedade tendem a funcionar.

Syd said...

Posso dizer que só compreendo a situação como observador e não como observado. Aliás, não tenho esse tipo de constrangimentos porque sou uma pessoa "invisivel". Não que não exista fisicamente, mas provavelmente por não ter atributos fisicos atractivos para que isso aconteça. Nesse aspecto sinto-me confortável. E se te incomoda acho que deves reagir. Acredito que as mulheres se sintam um pouco mais vulneráveis. Mas também acredito que haja aquelas que gostem de ser olhadas. Há mulheres que dão e fazem tudo para serem vistas e apreciadas. A culpa pode ser da sociedade mas, a meu ver, é também das mulheres. Por vezes chego a pensar que vocês são as vossas próprias piores inimigas... Para mim não é tudo uma guerra de sexos, é talvez mais a guerra dos egos. Aparecer na capa de uma revista de bikini é uma honra e uma vitória para muitas.
Somos voyeuristas por excelência. Só gostamos de ver e não de imaginar. Assim como é importante aparecer e ser visto. O fisico como uma forma de reconhecimento de uma existência...
Culturalmente o nosso corpo é sagrado. Mas quanto? Seremos mesmo os donos do nosso corpo?

Francisca C. said...

O corpo é sagrado e precisamente por isso é que não somos donos dele, por isso é que nos parece sempre imperfeito e por isso é que muitas vezes não nos sentimos no nosso corpo, porque ele nos parece estranho.
Sim, há mulheres que provocam. Mas também há mulheres que simplesmente se vestem para si mesmas, é uma maneira de estar totalmente legítima; não me passa pela cabeça não vestir o que gosto porque não quero que olhem para mim (e no primeiro caso seria para que olhassem para mim).
Não é só olhar, é a maneira de olhar, e não é simples chamar a atenção a quem não sabe como olhar.

Syd said...

As liberdades individuais de cada um não podem ser postas em causa. Senão também o seriam as liberdades colectivas. Ninguém tem legitimidade para dizer como te vestires. Será justo dizer aos outros como olhar? Ou para onde olhar?
Mas concordo contigo. Há que saber olhar. Até um homem gosta de quem saiba olhar. Então há que confiar nos gostos e nos modos de cada um e isso é sempre mais complicado. Ou encontrar alguém de quem gostes do olhar. Até lá, provavelmente, irás ter grandes batalhas...
Bom fim de semana