Saiu de casa para ver o Inverno que timidamente se anunciava. A cidade estava agora abandonada. O céu era cinzento claro, de fazer doer a cabeça. As botas, gastas de caminhadas antigas, escorregavam na calçada de pedras moles e polidas. No chão, os guarda-chuvas amontoavam-se como morcegos de asas partidas, cegados pela claridade do dia. O cheiro que saía do chão não era a terra molhada, mas a açafrão rançoso.
Não conseguia respirar plenamente o dia. Assustava-se com todos os ruídos, com as folhas que morriam das árvores até ao chão, a dançar gloriosamente pela última vez.
Olhou para si no reflexo de uma porta de vidro. Era de um branco transparente, já quase nem se conseguia ver...
Também ela, como uma folha morta pelo primeiro Inverno, dançava gloriosamente pela última vez, enquanto descia da sua colina de Lisboa até ao Terreiro. Deixou então que as suas pernas de pano a guiassem, e pela primeira vez o seu coração ardeu, ardeu de amor pela cidade (im)perfeita: Lisboa.
Wednesday, January 16
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1 comment:
Mesmo nos dias de Inverno, chuvosos, onde se acumulam atropelos e o frio se entranha nos ossos do corpo todo, Lisboa tem uma luz que encanta e que ilumina o dia. Por mais cinzento que ele seja...
´Good to see u:D
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