Wednesday, January 4

Inferno #63: atenção.

Falava há umas horas com um amigo e cheguei (tardiamente, devo dizê-lo) a uma conclusão triste: todos agimos em função da atenção que queremos receber dos outros.

Não é uma verdade universal, posso estar quadradamente enganada, mas chego cada vez mais à conclusão que é mesmo assim. É triste perceber que fazemos quase tudo pela atenção, pelos comentários que possamos eventualmente receber dos outros.
Mais triste ainda (chega até a ser cruel) é que muitas vezes os 'outros' tenham noção disso e propositadamente não nos dêem atenção (ou para ver até que ponto resistimos, ou só pelo simples prazer de nos ver desiludidos).
Sim, estou a assumir (como o meu amigo assumiu) que quero atenção! E acho que até tenho esse direito...
O problema é que, por mais mesquinha e egoísta que seja esta necessidade, toda a gente à minha volta age (de modo egoísta, lá está) como se só eles precisassem de atenção! Não, na verdade o problema não começa aí. O problema começa depois de essas pessoas receberem (da minha parte e não só) a atenção que desejavam. Depois disso têm de pensar muito profundamente nos seus profundos problemas e chorar profundas lágrimas, porque não lhes podem dar atenção o tempo todo. Azar! Eu queria alguma atenção e não a tenho, apesar de dar a quem precisa. A moeda de troca não é propriamente amarga, mas é egoísta (geralmente recebe-se um «obrigado» e não o desejado «mas está tudo bem contigo também? Precisas de alguma coisa?»).
Claro que se nesse momento existissem dois dedos de testa, as pessoas perceberiam que não, não está tudo bem. Eu também tenho coisas, sim, problemas(esquisito, não é? É que eu costumo estar tão bem disposta...), mas quem não os tem!!?? Eu também tenho dias que passo deprimida, eu também tenho pontos de interrogação na mente (um rio deles, e para a troca também), eu também enfrento obstáculos todos os dias - Eu também (sobre)vivo. Mas sim, é difícil exprimi-lo e leva algum tempo (que pena, não têm esse tempo para me disponibilizar...).

Mas para quê chamar a atenção para esse facto (embora já o tenha feito), para quê, se ninguém repara de qualquer modo!?

Posto isto, acho que a minha conclusão do início do post merece uma reformulação:
Todos agimos em função da atenção que queremos receber dos outros. Se tivermos sorte, recebê-mo-la, se não, passamos a vida a dá-la.

3 comments:

Anonymous said...

No comments...

Ouvidor said...

Pois é... esse é o grande problema. Mas também, que raio, passo montes de vezes, aqui, a olhar para ti e não te vejo e nem sequer te conheço...

Francisca C. said...

mas tu não confirmas a regra :)