Wednesday, January 25

Inferno #69: Jantaradas vs. jantarezinhos.

Jantaradas.
Prós:
  • Muita gente;
  • Muita comida;
  • São, geralmente, em espaços maiores;
  • Acabo por esquecer o odiozinho que tenho a alguns dos presentes;
  • Conheço os podres dos presentes que odeio (e vejo-os a cair de bêbedos, pelo que o seu potencial enquanto inimigos é vertiginosamente diminuído);
  • Acabo-as a ter conversas profundas (para pessoa bêbeda ou ensonada) com alguém que conheço há três horas (ou nem isso).

Contras:

  • Ter de aturar pessoas idiotas (e que começo a odiar seriamente);
  • Ter que dar beijinhos e apertos de mão a pessoas que só vou ver uma vez na vida;
  • Beber (e testemunhar os resultados da bebida na ressaca do dia seguinte);
  • Comer mal (apesar da aparente superabundância de comida).

As minhas jantaradas costumam ser uma junção de jantaradas de pessoas diferentes, o que torna o objecto em questão algo amorfo e obsoleto. Nas jantaradas há sempre muito para fazer (e há sempre o irritante «deixa estar que eu faço, deixa estar que eu faço!»); há sempre mais bebida que comida (o que é um acto de inteligência, uma vez que quanto menor for a porção de comida no estômago, mais rápido é o efeito do álcool) e mais pessoas desconhecidas do que conhecidas.

Acabo sempre a falar com alguém que não conheço de lado nenhum, e que me vai relembrar sempre como a pessoa de olhar lânguido que durante toda a noite intercalou conversas de algum nível intelectual com disparates e coisas engraçadas (e, regra geral, essas pessoas ficam com a estúpida ideia que eu sou sempre assim [que parte do 'estar bêbeda' é que não percebem?]).

Jantarezinhos.

Prós:

  • São com pessoas de quem se gosta mesmo;
  • A comida é mil vezes mais requintada (idem com as bebidas);
  • A comida chega, de facto, para toda a gente;
  • As pessoas conseguem, de facto, falar sobre assuntos sérios (mesmo que tenham bebido);
  • Mesmo que se odeiem alguns dos presentes, são meros ódios de estimação amorosos, perfeitamente domados e compreensíveis (e que, no fundo, alimentam a harmonia da relação com as pessoas em questão);
  • Menos loiça para lavar e menos 'ginástica' com fogões e panelas.

Contras:

  • Aperceber-me de algo que me irrita brutalmente em pessoas de quem gosto muito;
  • O espaço é, geralmente, mais pequeno (e por vezes não muito acolhedor);
  • Se me fartar das pessoas presentes não tenho mais pessoas para onde me virar;
  • As conversas (e a bebedeira) só extravasam até ao ponto do socialmente aceitável;
  • Não tenho de aturar idiotas, mas também não conheço ninguém novo.

Agora a questão é que quando preciso de jantaradas dão-me jantarezinhos amorosos (e por vezes entediantes). Inversamente, quando o que apetece mesmo é um jantarezinho calmo e pacífico para falar de tudo o que anda às voltas na cabeça, deparo-me com jantaradas apocalípticas, bem semelhantes ao dia anunciado como último antes do fim do mundo.

Nota de rodapé pós-publicação inicial: Peço desculpa por não ter feito deste post algo mais sexual (tendo em conta o seu número), mas não estou a ver, assim de repente, grande ligação entre a tipologia de jantares e a posição sexual que o referido número (69, para quem ainda não tenha chegado lá) baptiza (não, pôr os jantares noutro post ou simplesmente suprimir este número não são opção - este espaço pode ser muitas coisas, mas desorganizado não é!).

1 comment:

José said...

Está bem observado.
Mais duas páginas e tinhas formatado uma tese sobre a importância do repasto vispertino na prevenção do mal-estar matinal.