Tuesday, November 11
Inferno #240: Matemática.
Quanto tempo é preciso para que duas pessoas sintam genuinamente falta uma da outra?
Monday, November 10
Inferno #239: Maioridade.
Tornava-se cada vez mais difícil esconder que o tempo passava, e ela continuava no mesmo lugar. Não acontecia nada de extraordinário, não havia explosões, apenas coisas pequeninas, mundanas. O cabelo que caía no Outono, a nuvem negra a pairar sobre a cabeça no Inverno, o cansaço e a vontade de sair da cidade para outro lugar, qualquer lugar. Não havia pessoas novas, apenas camisas, fatos e gravatas iguais. Ninguém lhe disse que seria fácil, mas nunca pensou que fosse tão difícil.
Saturday, November 8
Inferno #238: A casa.
Tenho uma casa pequena. Nela, o tecto tem a altura dos meus pés, e o chão dá-me pela cabeça. Não existem móveis, ou roupas, ou quadros, só o silêncio infinito. Entro nela, e tranco-me com uma chave de cinzas. Não há nada nesse nada, onde tecto e chão se cruzam e anulam. Só um cheiro de especiarias doces e enjoativas (cravinho e erva-doce). É a minha casa, onde entro sempre que quero.
Friday, November 7
Inferno #237: Mãos.
Essas mãos, aí em baixo, são as minhas ou as de outra pessoa?
Lembras-te que, há muitos anos atrás, éramos só um do outro, só nossos? Partilhávamos a comida, os bancos, os pensamentos e as músicas. Éramos as nossas mãos com que partíamos coisas aos pedaços, para nos alimentarmos.
Depois fiquei míope, deixei de te conseguir alcançar com as mãos e os olhos. Navegaste para muito longe, e quando voltaste não eras a mesma pessoa, já não te conseguia decifrar o pensamento; já não querias partilhar a tua comida comigo.
Agora que te toco, pois jazes no chão, e sei que estas são as minhas mãos, pergunto-me se também o saberás.
Lembras-te que, há muitos anos atrás, éramos só um do outro, só nossos? Partilhávamos a comida, os bancos, os pensamentos e as músicas. Éramos as nossas mãos com que partíamos coisas aos pedaços, para nos alimentarmos.
Depois fiquei míope, deixei de te conseguir alcançar com as mãos e os olhos. Navegaste para muito longe, e quando voltaste não eras a mesma pessoa, já não te conseguia decifrar o pensamento; já não querias partilhar a tua comida comigo.
Agora que te toco, pois jazes no chão, e sei que estas são as minhas mãos, pergunto-me se também o saberás.
Inferno #236: A lâmina.
Sinto constantemente uma faca no pescoço, mesmo a meio do pescoço, entre o ouvido e o ombro, a assobiar, a fazer-me adivinhar a sua frieza tão próxima. Nunca pensei que um dia precisaria de morte, de medo da morte, para sentir adrenalina. A verdade é que estou demasiado gasta, azul, cinzenta e verde-pardo. Sou uma velha de 20 anos. Há quem diga que as mulheres têm prazo de validade. Sempre achei a ideia verdadeiramente idiota, mas começo a sentir o meu.
Inferno #235: Neve.
Bem podes chorar, porque a neve veio finalmente, e agora vês que desapareci. Não sou eu, sou apenas uma enorme cobertura de açucar gelado.
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