Tuesday, December 18

Inferno #197: O velho.

O "velho" não lhe saiu da cabeça durante um mês e tal. Um mês de noites mal dormidas a fantasiar com ele, holograma perfeito projectado da sua cabeça directamente para a sua cama.
Devia estar apaixonada. Ou a querer ficar apaixonada..."Era o que mais me faltava, agora apaixonar-me por um velho, um paizinho...".
Mas, enfim, eram só hologramas. Nunca chegou a conhecer bem o homem que existia no velho. Gostava apenas de falar com ele, dava-lhe gozo sentir-se mais inteligente do que ele, e sobretudo muito mais nova. Sabia que as coisas não eram bem assim. Aliás, a verdade é que era o velho que dominava as conversas: falavam sobre os assuntos dele, no horário de nómada que ele tinha escolhido para si, e quando estava disposto a isso. No fundo, sabia que estava a ser manipulada em cada conversa que tinham, mas enquanto não o encontrasse na sua cama (em carne, não em projecção mental), a invadir-lhe a privacidade como nunca ninguém se tinha atrevido a invadir (nem ela o tinha consentido), não se preocuparia. Enquanto fosse apenas um jogo psicológico, não havia riscos reais, nem sequer o risco de se apaixonar.

2 comments:

Anonymous said...

Muito engraçado o texto…
Talvez as paixões surjam mais fortes quando há jogos psicológicos e neste caso o risco seria bem real - na minha opinião, claro - afinal quando não se deve ou quando não se tem é quando mais se quer, neste caso, um velho. Depois da carne o interesse acabava. Não estaria já apaixonada?

Francisco

Francisca C. said...

Talvez...