Tuesday, September 26

Inferno #127: Haaaa

Tive um ataque.
Posso?!
Até marchavas, mas daqui não dá, sabes...?




P.S.: "There goes my gun..."

Monday, September 25

Inferno #126: A carta.

Não podias voar de facto, pois não? Mesmo que quisesses muito…
Não podias fazer com que a vida interrompesse o seu curso natural, pois não? Podias assim tanta coisa realmente, ou foi só um sonho que alimentaste para não desmoronar? De facto, viver a morte é doloroso, quase impossível – não é fácil aceitar que perder alguém possa ser natural.
E, creio, as perdas também fazem parte do curso natural da vida, o tal que não pode ser interrompido.
Comoves-me e confundes-me.

Não te posso ensinar nada, porque na tua cabeça já sabes tudo, mesmo que na verdade sejas só um rapaz que acha que tem o controlo (na verdade há poucas coisas que podemos controlar - o amor não é certamente uma delas).

É esta a carta que eu não te vou escrever, porque ao lê-la partir-te-ias como uma boneca de porcelana.

Friday, September 22

Inferno #125: Paris, Texas.

Quem inventou que o estrangeiro é que é, que aquilo é que é qualidade de vida, que não sei quê e não sei que mais e «que isto, só mesmo neste país de merda [Portugal]!!»?
Pois tenho andado a fazer um estudo, tenho andado mesmo no terreno, faço parte da amostra em estudo e não preciso de estudar muito mais, para afirmar (negar, neste caso) sem qualquer tipo de dúvida - Não, nem sempre o país estrangeiro (gajos é um estudo que tenho em mente quando acabar o actual) é melhor!
Qualquer bom português sabe o que é esperar horas numa fila para resolver um dado assunto, não é preciso ter muitos anos de vida e experiência acumulada para saber o que isso é - agora que penso nisso, apercebo-me de um facto alarmante e bastante perverso: tudo ou basicamente tudo tem, na sua origem, uma fila de espera. Adiante. Acontece que, em Portugal, a espera nas filas é invariavelmente desesperante, mas "frutífera" - quer dizer, não é lá grande fruto conseguir perceber o imposto de não sei o quê ao fim do ano, o que quero dizer é que o assunto é resolvido.
Ora acontece também que, quando nos transferimos para um dos países que Portugal invariavelmente (e sem muita imaginação, frise-se) imita a bem imitar - a França -, a situação transfere-se também: de chatice que dá comichão passa a verdadeiro inferno dantesco! França tem um complexo qualquer, absolutamente inexplicável, com as filas de espera! Uma singela fila de espera francesa pode dar origem a várias semanas de desespero para resolver o assunto mais simples de todo o "hexágono". E quando digo desespero, quero significar mesmo Desespero! Durante essas semanas de espera desesperada (viva a aliteração!)relativamente a um assunto de fila de espera, o indivíduo começa mesmo a desenvolver sintomas de personalidade desviada, como por exemplo falar constantemente da situação e sonhar (pesadelar) com ela.
Há, inclusive, uma hierarquia de filas (muitas vezes são diferentes filas para uma mesma coisa) que pode estender-se até ao infinito:
  • A primeira fila é a maior - e também a mais decepcionante, porque o indivíduo vai para lá "fresco", consciente que terá de esperar muito tempo, mas confiante que resolverá tudo nessa mesma fila, nesse mesmo dia (na verdade, não passa de uma ilusão).
  • A segunda fila é a desesperante, porque geralmente é feita após uma noite mal dormida, com uma pequena esperança e uma vontade extraordinária de saltar para cima do funcionário/a de ar empertigado que está atrás da secretária e, no mínimo, degolá-lo/a.
  • A terceira fila é a social - o indivíduo vai para lá com pouca vontade e pouca confiança e acaba (como sempre, em fila, à espera) a falar com os vizinhos. Geralmente fazem-se bons amigos de ocasião, isto é, pessoas com quem o indíviduo pode estar, quando espera numa fila.
  • A quarta fila é a da peixeirada e da frase-chave: "Também nem sei para que é que estou a fazer isto [apesar de no início ter parecido um motivo muito válido]; com os dias que ando a faltar ao trabalho vou ser despedido de certeza! [o que implicará novas filas - mas nessa altura o indivíduo já não terá emprego, pelo que poderá desfrutar convenientemente de todas as alegrias que uma fila lhe pode trazer]". Invariavelmente estas filas proporcionam incríveis espectáculos de exorcização da raiva contida: gritos com o funcionário/a atrás do balcão (agora conhecido/a, entre os que esperam na fila, como "anti-Cristo") e insultos diversos. Os indivíduos mais incontidos acabam por perder os amigos feitos na terceira fila.
  • A quinta fila pode ser a da recompensa final (noutros casos a hierarquia continua e os sinais patentes de loucura do indivíduo que espera aumentam). De qualquer modo, o indivíduo encontra-se já tão anestesiado que quando finalmente resolve o assunto nem se apercebe.

Em França, é também muito difícil encontrar o/a funcionário/a atrás do balcão, porque o seu horário de trabalho é bastante (inexistente?) reduzido. A conjugar com o horário do/a funcionário/a, existe também o horário do próprio indivíduo (que ainda não se encontra desempregado), a(s duas) hora(s) de almoço (do/a funcionário/a) e outros tantos compromissos marcados anteriormente. Tendo em conta que são pelo menos cinco filas, e que os dias úteis são também cinco, o tempo mínimo de espera para resolver um assunto de fila de espera em França é duas semanas e meia. Nessas duas semanas e meia, o indivíduo podia ter dormido, passeado, enfim, poderia ter vivido de facto. Pelo contrário, ganhou cabelos brancos, olheiras e pele amarelada.

Em Portugal, o indivíduo vê a sua espera recompensada - pode demorar, mas chega, sem que entretanto o indivíduo tenha começado a desenvolver sintomas de psicose - já em França... Agora que começo a pensar nisso, deve ser por causa das filas de espera que em Paris há tantos loucos na rua (eles têm todo o ar de quem sofreu em pelo menos 11 filas diferentes), e também deve ser por isso que todo o emigrante deseja voltar para Portugal e se calhar o ar empertigado dos parisienses também tem na sua génese uma fila de espera: ou é funcionário/a atrás do balcão, ou sabe o que é esperar numa fila de espera sem enlouquecer de facto.

Monday, September 11

Inferno #124: le manque des mots '2.

Et quand sont les personnes ce que je manque, j'ai pas un mot pour le dire.

Inferno #123: le manque des mots.

Quando se está fora da língua (-mãe), nunca há as palavras que se procura e tudo fica mais vazio.